Não importa se recebemos a noticia dias após o nascimento ou um pouco mais tarde. O fato é que quando ela chega parece que falta o chão.
Ficamos desesperadas, frustadas, as vezes até anestesiada sem saber por onde correr. A primeira pergunta que vem é o por que? Por que comigo?
Voltando ao passado que nem faz tanto tempo assim já que mês que vem Gui completa 4 anos, lembro de ter passado 9 meses carregando meu bebê no ventre, imaginando sua carinha, fazendo o pré natal direitinho, exames, enxoval e tudo o que uma mãe tem direito até o dia que amado filho nasce.
Ele vem para os meus braços e olho ele inteiro. Está tudo ok! Dois braços, duas pernas, cabeça redondinha, choro forte e algumas horas depois lá vem ele no quarto mamar. Tudo perfeito!
Perfeito? Simmmm perfeito.
No meu caso a notícia veio muito rápido, 1 dia depois do nascimento com a negativa do teste da orelhinha. Claro que não é nesse momento que alguém fala que seu filho é SURDO, ainda tem o retorno depois de um mês, outro teste, outro exame mas mesmo assim...Isso já quebra todo o encanto, tira todo o "barato" da família.
Teste da orelhinha. Necessário e obrigatório
Você sai da maternidade com um ponto de interrogação na cabeça e um bebê no colo.
A primeira coisa que fiz quando cheguei da maternidade foi deitar o Gui na minha cama e bater tudo quanto é tipo de objetos na orelha dele para ver se ele respondia.
Nada!
Então o jeito foi esperar o retorno. Enquanto isso durante um mês inteiro eu mal vivi. A pior coisa que existe é viver com dúvida. Esse um mês antes do retorno me pareceu um ano!
Depois de um retorno e mais um exame enfim a noticia:
Seu filho é surdo, seu filho é surdo profundo, D.A, seu filho tem Perda auditiva neurossensorial profunda.
A única coisa que resta para qualquer mortal é chorar!
Ha eu chorei, chorei bastante.
É o famoso luto!
É importante passar por ele. É o momento em que temos que enterrar o filho que sonhamos e idealizamos na nossa cabeça e construir um novo. Não é fácil!
Como construir? Por onde eu começo? Como é? Quanto tempo dura? Quando vou aceitar o fato de ter um filho deficiente?
Para o mundo que eu quero descer! Não foi isso que eu escolhi não.
Isso é algo particular de cada mãe e família. Não tem tempo certo nem errado.
Cada um digere da sua forma e no seu tempo. Ninguém escolheu isso. Eu não escolhi, você não escolheu. A dor é nossa, só quem é mãe sabe.
Conheço mãe que o filho já é grandinho e ela ainda vive no luto. A dor é imensurável e não cabe a ninguém julga-la.
O meu não durou muito não. Chorei, levei um choque mas logo comecei a procurar tudo sobre surdez.
Fui lendo, aprendendo, escutando várias histórias diferentes e isso foi me ajudando muito.
Me lembrei também que quando estava grávida do Gui conheci uma mãe em um evento que a filha teve paralisia cerebral e me lembro que fiquei admirada com a dedicação daquela mãe.
De onde vinha tanta força e coragem?
Do amor de mãe! Isso é que nos move.
Então eu acredito que Existem 2 caminhos:
O da lamentação e o de "Colocar a mão na massa" e tocar o barco.
Eu escolhi e de tocar o barco.
Minha maior e única inspiração sempre foi ele:
Construímos um vínculo inabalável.
Nos falávamos com o olhar, o toque, sorriso.
Fui ficando mais forte.
O peso da surdez foi ficando tão mais leve.
Mas não pensem que o caminho é fácil. Não é!
O peso da deficiência fica sim mais leve no momento em que você aceita o seu filho como ele é, mas por trás da surdez existe muitas coisas e escolhas.
É a oralidade, IC, Libras, fono, exames...Escolhas...Várias escolhas cada uma com o seu peso e uma baita responsabilidade.
Cobranças de todos os lados. Pessoas criticando o caminho escolhido.
Mas a escolha é você quem faz! Esteja segura (o) para fazer o melhor para o filho.
Observe, pergunte, questione e seja sensível para conseguir perceber o que seu filho realmente precisa.
E não pense duas vezes em mudar de opinião, conhecer outras alternativas ou até começar tudo de novo porque nada está escrito em pedras.
O que eu garanto é que ao longo dessa caminhada ganhamos força, coragem e muito aprendizado.
Eu aprendo cada dia algo novo com o Gui e essa troca é maravilhosa.
Permita-se curtir e amar seu filho plenamente! Choros, frustrações, dificuldades, cansaço, alegrias e vitórias faz parte da vida, mas olhe seu filho muito além que um aparelho e uma orelha.
SEJA FELIZ que de recompensa você terá um filho feliz!
Um beijo
Sabine Schaade.
Contato: sabine.schaade@bol.com.br